Assentos

Assento é o nome que a igreja dava aos documentos que registravam os principais eventos da vida nos séculos passados, antes que os registros passassem a ser obrigatoriamente feitos em cartórios, o que em Portugal ocorreu a partir de 1911.

Os três assentos principais eram o de batismo, o de casamento e o de óbito, e as paróquias costumavam manter livros separados para cada tipo de registro – ou registo, como se diz em Portugal -, embora houvesse livros mistos.

Os registros de batismo informavam a data e local do nascimento da criança, a data do batimo propriamente dito, os nomes dos pais e avós e os dos padrinhos, o nome do padre oficiante, bem como seus locais de origem e, eventualmente, se algum deles já era falecido – a quantidade de informação aumentou ao longo dos séculos, como mostrarei em outro texto. Quando o pai da criança era conhecido, o assento de batismo declarava que ela era filha legítima. Quando era desconhecido, informava que era filha natural. Abaixo se pode ler a transcrição do assento de batismo de um antepassado meu de sétima geração:

Lourenço, filho legítimo de Pedro Rodrigues e de sua mulher Anna Lopes, desta vila, nasceu aos [9] do mês de agosto de 1732 e aos 15 do dito mês [lhe batizou e pôs] os santos óleos o padre Pedro [] [de Mesquita] cura desta igreja. Foram padrinhos o padre Dionísio Álvares e sua irmã Maria Álvares, desta vila, e neto pela parte paterna de Miguel Rodrigues e de sua mulher Maria Vieira, já defuntos, e pela materna de Domingos Fernandes e de sua mulher Isabel Lopes, todos desta vila. [] fiz essa [] ut supra.

Os colchetes contêm minha proposta de transcrição para trechos de interpretação difícil no original ou mesmo meu reconhecimento de que há trechos de interpretação impossível.

Os registros de casamento traziam quase as mesmas informações dos assentos batismais, com adendos de dispensas de grau de consanguinidade – liberações da igreja para casamentos entre pessoas aparentadas em algum grau -, e sobre um dos cônjuges já ter sido casado ou ser viúvo ou viúva. Eis um exemplo de registro extraído de minha árvore familiar. Foram meus antepassados de sétima geração:

Aos 23 dias do mês de dezembro do ano de 1743, feitas primeiro as denunciações na forma do sagrado concílio tridentino e constituições deste arcebispado de Braga primaz, nesta freguesia de Vilar de Maçada, em presença de mim o padre João de Mesquita, coadjutor desta freguesia, se receberam, sem bênçãos, Pedro Nunes, filho legítimo de Leonardo Gonçalves e Anna Correa, com Violante Maria, filha legítima de Francisco Dias, já defunto, e de Anna Correa, todos do lugar de Francelos e desta freguesia de Vilar de Maçada, e não tiveram impedimento algum nem eu o soube. Foram testemunhas Domingos Rodrigues e [] Ferreira, ambos deste lugar de Vilar de Maçada, e para constar fiz este termo era ut supra.

Finalmente, os assentos de óbito informam o nome do defunto, de seus eventuais cônjuges e do padre que efetuou o registro; a existência ou não de testamento; os sacramentos recebidos ou não antes da morte; o local de sepultamento, bem como os últimos desejos do indivíduo. Eis mais um exemplo, desta vez de uma antepassada de sexta geração:

violanteteresa
Assento de Óbito de Violante Thereza de Sousa – 4/03/1836 – Carrazeda de Ansiães, Vila Real, Portugal

Violante Thereza de Sousa, viúva que ficou de Antonio Nunes, do lugar de Tralhariz, freguesia de São Brás do Castanheiro, faleceu da vida presente com todos os sacramentos aos 4 dias do mês de março do ano de 1836. Foi enterrada na igreja matriz desta freguesia. Não fez testamento e, para constar, fiz este assento, dia, mês e era ut supra. O Vigário Manoel José da Motta Clemente

Observe o uso de fórmulas como “filho legítimo de”, “na forma do sagrado concílio tridentino”, “para constar fiz este termo”, “era ut supra”. Saber que essas expressões são usadas com frequência pode ser útil na hora de decifrar uma caligrafia antiga como a do exemplo abaixo, que é justamente o original digitalizado do assento de óbito de Violante Thereza.

Uma pesquisa genealógica que se preze deve primar pela busca de pelo menos esses três tipos de registro histórico, mas, como tratarei em nova postagem, existem várias outras fontes possíveis em complemento a eles.


José Araújo é linguista e genealogista amador.

7 comentários sobre “Assentos

  1. […] Em texto anterior, comentei que a quantidade de informações contidas nos assentos de batismo, casamento e óbito variou ao longo dos séculos. Como afirmam Queiroz e Moscatel, do século XVI ao século XIX, os assentos incorporaram mais informações. […]

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  2. […] as fontes documentais possíveis para pesquisa genealógica, já mencionei os assentos paroquiais, as fotografias e cartas familiares, os registros militares, os periódicos e as cartas régias. […]

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