Em texto anterior, comentei que a quantidade de informações contidas nos assentos de batismo, casamento e óbito variou ao longo dos séculos em Portugal. Como afirmam Queiroz e Moscatel, do século XVI ao século XIX, os assentos incorporaram mais informações.
Os assentos de batismo no século XVI traziam basicamente o nome da criança – não seu sobrenome -, a indicação de ser filha legítima (de pais casados) ou natural (de mãe solteira) e, respectivamente, o nome dos pais ou apenas da mãe; a data do batismo e os nomes dos padrinhos e seus locais de residência. Nos séculos seguintes, esse tipo de assento incorporou as informações relacionadas abaixo:
Século | Informação incorporada |
XVII | Data de nascimento; naturalidade ou local de residência dos pais; e, no fim do século, nomes dos avós e sua naturalidade ou local de residência |
XVIII | Filiação e residência dos padrinhos e seu eventual grau de parentesco com a criança, assinaturas do padrinho e de uma ou outra testemunha |
XIX | Hora e local do nascimento, profissão dos pais |
Os assentos de casamento no século XVI traziam basicamente os nomes dos noivos e de seus pais, bem como seu local de residência e menção a uma ou outra testemunha. Nos séculos seguintes, esse tipo de assento incorporou estas informações:
Século | Informação incorporada |
XVII | Indicação de serem os noivos solteiros ou viúvos |
XVIII | Menção de terem sido desobrigados e de dispensas de consanguinidade, nome da igreja ou capela onde se casaram, nomes de seus avós e naturalidade ou local de residência |
XIX | Local onde os noivos foram batizados; e, a partir de 1860, assinaturas dos noivos e menção às suas profissões e às de seus pais e testemunhas |
Os assentos de óbito no século XVI informavam o nome do falecido e a data do óbito, sua filiação (se fosse menor ou solteiro), o local de residência, a existência de testamento e o local do sepultamento. Nos séculos seguintes, esse tipo de assento incorporou as informações relacionadas na tabela:
Século | Informação incorporada |
XVII | Menção ao testamenteiro e nota com número de missas que serão rezadas e o número de padres |
XVIII | Menção a obrigações para o testamenteiro, também relacionadas às missas |
XIX | Idade do falecido; nomes de seus avós; causa da morte; dia e local de sepultamento; e, no fim do século, sua profissão, naturalidade e quantidade de filhos |
Abaixo pode-se ver a riqueza de informação que se encontra no assento de óbito de uma antepassada falecida em meados do século XIX.
![PT-ADVIS-PRQ-PTBC03-003-0003_m0003_Óbito de Theresa Amália](https://genealogiapraticacom.wpcomstaging.com/wp-content/uploads/2017/04/pt-advis-prq-ptbc03-003-0003_m0003_c3b3bito-de-theresa-amc3a1lia.jpg?w=809)
Aqui a transcrição:
Aos nove dias do mês de maio de 1862, às duas horas da noite, na casa da Rua da Cainha desta freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Barcos, concelho de Tabuaço, distrito eclesiástico de Barcos, diocese de Lamego, faleceu D. Theresa Amália, costureira, da idade de 76 anos, viúva de José de Menezes, natural e paroquiana desta freguesia, filha legítima de José Pinto Rebello do Souto e Bárbara Ribeiro, naturais desta freguesia, neta paterna de Antonio Pinto Cirurgião e Maria Josefa, esta natural de Tabuaço, aquele desta freguesia de Barcos, e materna de Manoel Fernandes, natural desta freguesia, e Luisa Ribeiro, da freguesia de Tabuaço. Não fez testamento, deixou filhas. Recebeu os sacramentos da penitência, da eucaristia e não recebeu extrema-unção por não darem aviso. Foi sepultada no dia dez do supradito mês e ano na igreja desta freguesia. E para constar lavrei este assento em duplicado que assinei. Era ut supra. – o presbítero abade Antonio Rodrigues Pinheiro
A incorporação de informações não ocorreu de forma consistente em cada século, pois a decisão de incluir ou não um item provavelmente tinha a ver com o costume de cada década, paróquia ou pároco. Talvez por esse motivo se veja tanta variação entre os assentos de mesmo tipo entre paróquias diferentes.
José Araújo é linguista e genealogista amador.
[…] assentos paroquiais nem sempre tiveram a mesma estrutura, como já informei em texto anterior sobre sua evolução desde o século XVI. Os assentos de óbito, por exemplo, já no século XVI […]
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