Personagem

Não é sempre que se encontra na própria árvore genealógica um antepassado que poderia ser descrito como um personagem. Um caso desses é digno de registro, principalmente quando esse antepassado-personagem participou de eventos importantes na história de seu país. Esse foi o caso de José Pinto Rebello de Carvalho, primo de minha trisavó paterna em Barcos, Tabuaço, Viseu.

A descoberta desse antepassado ocorreu durante a análise do assento de batismo de Maria Adelaide (21/02/1826), filha do alferes José de Menezes Sá Almeida e de Theresa Amália, que era irmã de José Pinto. Ambos eram filhos do doutor médico José Pinto do Souto e netos do cirurgião Antonio Pinto Rebello, sobre os quais tratarei em outros textos.

Eis o assento de batismo de Maria Adelaide:

Maria Adelaide
Batismo de Maria Adelaide – 22/03/1826 – Barcos, Tabuaço, Viseu

E aqui a transcrição:

Aos 22 dia do mês de março do ano de 1826, nesta igreja de Nossa Senhora da Assunção e colegiada de Barcos, batizei solenemente e pus os santos óleos a Maria Adelaide, que tinha nascido a 21 de fevereiro do dito ano, filha de José de Menezes e Sá, natural do Terrenho, e Theresa Amália, natural desta freguesia de Barcos, sendo primeiro matrimônio da parte de ambos. Neta paterna de Isidro de Almeida e D. Anna Ermelinda do Terrenho, freguesia da Torre, e pela materna neta de José Pinto do Souto e Bárbara Ribeiro, desta freguesia. Foram padrinhos o Bacharel José Pinto Rebello de Carvalho, tio da batizada e sua mulher Maria José Adelaide Ferreira Pinto e, com procuração destes [] Manoel Pinto de Serqueira de [] e sua mulher Rita [] desta vila. Foram testemunhas o padre sacristão Antonio Duarte […]

No assento, José Pinto é apresentado como bacharel, o que não esclarece muita coisa. Mas o fato de ele ser filho de um médico poderia ser um indício. Na falta de outras fontes paroquiais, recorri ao Google e encontrei uma publicação na obra Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, publicada em 1821 pela tipografia da dita academia, na qual José Pinto Rebello de Carvalho é apresentado como Estudante em Medicina na Villa da Barca. Nessa mesma publicação, pode-se ler um extrato de 12 páginas de Da Descripção da Villa de Longroiva e suas Aguas mineraes, remettida à Academia, texto que submeteu sob o nome completo de José Pinto Rebello de Carvalho e Souto. Abaixo uma imagem da primeira página desse texto.

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Nessa busca, descobri ainda um verbete sobre ele no Diccionario Bibliographico Portuguez: Estudos de Innocencio Francisco da Silva aplicáveis a Portugal e ao Brasil (Lisboa, Imprensa Nacional, 1860), que pode ser visto na imagem abaixo:

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Muitos outros textos publicados por esse antepassado-personagem foram encontrados pelo Google e, para culminar as descobertas, encontrei uma descrição detalhada da história de vida de José Pinto no site de Tabuaço, Viseu, onde ele é apresentado como figura ilustre. Nessa descrição, informa-se que ele era filho de uma ilustre família local e ainda que estudou Medicina em Coimbra, quando editou o periódico Censor Provinciano: periodico semanario de philosophia, politica e literatura.

Por conta sua fidelidade ao liberalismo, com o retorno de Dom Miguel e do absolutismo, viu-se obrigado a buscar o exílio na Inglaterra, onde redigiu os polêmicos jornais O Padre Malagrida ou a Tesoura: Periódico Político e Literário, de 1828 a 1829, e O Pelourinho, de 1831 a 1832. Posteriormente, estudou Ciências Físicas e Naturais na Universidade de Sorbonne, França, e doutorou-se em Medicina na Universidade de Louvain, Bélgica.

O site informa ainda que há registros de que esteve no Rio de Janeiro em 1849 por haver sido publicado, no Volume II do Iris: periodico de religião, bellas-artes, sciencia, lettras, história, poesia, romance, notícias e variedades,  o poema A reforma. No entanto, o texto às páginas 160 e 161 do periódico sugere apenas que José Pinto tenha enviado textos para publicação, sem que isso de fato signifique que tenha estado na cidade.

As fontes consultadas informam que José Pinto teria morrido pobre na cidade de Campos em 1870, porém ainda não foi encontrado o registro de óbito desse personagem apaixonante e digno de um romance. Para saber mais sobre ele, siga este link.


José Araújo é linguista e genealogista amador.

11 comentários sobre “Personagem

  1. […] uma busca para tentar descobrir mais sobre a situação de sua família, na qual há outro personagem polêmico, encontrei uma página com a relação de barquenses ilustres e me deparei com a descrição de uma […]

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  2. […] do Souto (? – 1842) é um personagem interessante de minha árvore genealógica: foi pai do bacharel José Pinto Rebello de Carvalho (1788-1870), exilado durante a Guerra Civil por resistir à causa absolutista de d. Miguel, irmão […]

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  3. […] ordenados”, como registra a pesquisadora Maria de Lourdes Lima dos Santos. José Pinto, como já comentei, buscaria o exílio inicialmente na Inglaterra e depois se estabeleceria na França, onde estudaria […]

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  4. […] em outra localidade onde se encontravam por motivo de trabalho, e lá acabaram sepultados, e os que emigraram temporariamente por motivos políticos, vários antepassados mudaram-se para outras localidades por motivo de casamento – o que […]

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  5. […] escrita por um parente indireto sobre o qual já falei várias vezes aqui no blog. O parente é José Pinto Rebello de Carvalho (1788-1870), e a obra é o ensaio A Carta e as Cortes, cuja capa se vê na imagem […]

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  6. […] isso o que se depreende do seguinte trecho (com meus destaques) de A Carta e as Cortes, escrito por José Pinto Rebello de Carvalho, primo de minha trisavó paterna e exilado durante a guerra civil portuguesa de 1828-1834 por sua […]

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  7. […] da descrição destacada acima: ele era advogado, portanto bacharel. José Pinto, também identificado dessa forma em alguns assentos paroquiais, havia estudado em Coimbra, portanto buscar informações sobre […]

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