Dispersos

A família Rebosa, de minha avó paterna, mãe de meu pai, é oriunda da freguesia de São Mamede de Ribatua, no concelho de Alijó, distrito de Vila Real. A localidade foi vila e sede de concelho entre 1162 e o início do século XIX. Contava em 1864 com pouco mais de 1500 habitantes. Em 2011, entretanto, lá havia apenas pouco mais de 700 almas. Grande parte dos habitantes deve ter saído da região à busca de oportunidades melhores nas cidades ou mesmo no exterior, como ocorreu com minha família.

Minha avó nasceu em São Mamede em 1900. Embora seu registro de chegada ao Brasil não tenha sido encontrado nas bases do Porto de Santos (SP) ou do Rio de Janeiro, existe um registro de passaporte de 15 de novembro de 1911 no Arquivo Distrital de Vila Real. Nesse registro, informa-se que ela teria 11 anos e viria para o Brasil com sua mãe, Maria Pinto Teixeira ou Maria Benedita, que na época tinha 54 anos.

Seu pai, meu bisavô Luís Gonçalves Rebosa, chegou ao Brasil em 24 de novembro de 1906, como informa o registro de entrada de estrangeiros do Porto do Rio de Janeiro. E chegou desacompanhado, embora o casal Luís e Maria Benedita tivesse, naquela época, mais quatro filhos: João Luís (34 anos), Maria dos Anjos (22 anos), Ancelina (18 anos) e Abel (16 anos), todos nascidos como filhos naturais, pois o casal apenas registrou seu casamento em maio de 1892, momento em que se deu o reconhecimento da filiação.

luizrebosa
Entrada de Luiz Rebosa – Fonte: Arquivo Nacional

O curioso nessa família em relação à família Araújo, do pai de meu pai, é que os filhos não emigraram com os pais. Segundo informações encontradas no Arquivo Distrital de Vila Real, Maria dos Anjos teve seu passaporte registrado em dezembro de 1913, quando ela já tinha 29 anos. Abel Rebosa teve seu passaporte registrado em dezembro de 1915, quando já tinha 25 anos. Os filhos mais velhos vieram em levas talvez por escassez de recursos, talvez porque tivessem de se desfazer de propriedades antes de emigrar.

A surpresa dessa pesquisa foi a descoberta de outro Rebosa, António de Almeida Rebosa (1847-?), que teve seu passaporte registrado em novembro de 1877, quando tinha 29 anos. A imagem original pode ser vista abaixo.

Passaporte de Antonio de Almeida Rebosa
Passaporte de Antonio de Almeida Rebosa – 21/11/1877

Aqui a transcrição:

Em 21 de novembro de 1877 se concedeu passaporte, por 90 dias, por 90 dias para ingresso ao Brasil, saindo pela Barra do Porto ou Lisboa, a Antonio d’Almeida Rebosa, solteiro, proprietário, do lugar e freguesia de São Mamede, concelho de Alijó, sendo abonado por documentos legais. | Idade: 29 anos, Altura: 1m62c, Rosto: comprido, Cabelo: Castanho, Sobr’olhos: idem, Olhos: idem, Nariz: regular, Boca: idem, Cor: natural

Antônio era filho de João Gonçalves Rebosa, tio-avô de meu bisavô, e Antônia de Almeida. O que o teria trazido em época tão remota ao Brasil é ainda um mistério.


José Araújo é linguista e genealogista amador.